Quem me conhece sabe: nos últimos anos tive uma relação de "amor e ódio" com o templo da música eletrônica. Em 2011 cheguei a colocar uma tip na sua página no Foursquare, dizendo que ele é o melhor club do país - tip esta que fiquei tentado a apagar nos anos seguintes, quando os line-ups e a super-lotação constante me fizeram mudar de opinião. No entanto, preferi manter; eu sabia que cedo ou tarde eu poderia mudar mais uma vez meu pensamento. E este dia chegou.
A programação era bacana, mas longe de ser divisora de águas. Hernán Cattaneo, quase residente, era a estrela da primeira noite, enquanto a segunda noite hospedaria um Diynamic Festival completo. Mesmo assim, depois da festa incrível de encerramento de carnaval (com Innervisions, Ben Klock e Nina Kraviz), resolvi dar meu voto de confiança e tentar novamente, com mente e coração abertos.
Trupe Detroit BR reunida, hora da verdade. O primeiro dia foi dentro do esperado: um Hernán progressivo como sempre, hipnotizando todo o Main Room com seu long set de 6 horas de duração. Todos os fãs do argentino que encontrei na festa tinham a mesma opinião: ótima apresentação, mas longe de ser a melhor dele. Como eu nunca tinha visto um long set seu, fiquei satisfeito com o resultado - especialmente com a hora final. Quando os raios de Sol invadiram a pista pela sacada a inspiração veio de vez para ele, e os sons melódicos deixaram todos em estado de êxtase.
Além dele, pudemos conferir o live de Genius of Time. Neste caso, talvez a grande expectativa (e a competição com outro live visto recentemente) tenha estragado um pouco o momento: de fato, uma apresentação muito criativa, porém, curta (menos de 50min) e sem "corpo" - não havia começo, meio e fim, não havia história sendo contada. Bem aquém ao que tocaram no Boiler Room, por exemplo.
Saindo do Warung, a festa ainda estava longe de acabar: o after Detroit BR rendeu mais de 10 horas de puro techno de primeira, com Danee, Cheap Konduktor, Kultra, Alex KameL, Petrius D e André Anttony. A energia do público presente mostrou que realmente este é o próximo "estilo da onda", e que quanto mais o Warung (e todas as outras casas da região) investir nele, mais retorno terá.
Depois de uma longa noite de descanso, era a vez do gran finale: Diynamic Festival. Neste caso, a sensação era oposta do primeiro dia, afinal, como ferrenho crítico da linha de deep house apresentada pela maioria deles, não coloquei expectativa nenhuma na noite. Quase nenhuma: na XXXperience o alemão Stimming havia feito um dos melhores lives que vi na vida, e a esperança era de que ele, no mínimo, salvasse a noite. E o que aconteceu é talvez o que mais me empolga nesse mundo da música eletrônica: fomos todos surpreendidos novamente!
Nesta festa chegamos tarde - a noite mais pop tinha uma fila de carros de mais de uma hora. Após entrar, rumamos ao Garden, para tentar ver um pouco de David August, mas foi impossível. A pista estava tão cheia, que ela terminava já no tablado que dá acesso ao banheiro. A locomoção era impossível, e o conforto era sonho. Depois de alguns minutos desistimos da ideia e resolvemos angariar um lugar decente no Main Room, para acompanhar Stimming com tranquilidade.
Enquanto ele não começava, pudemos acompanhar um belo set de Adriatique - pesado e envolvente, bem diferente do que estávamos esperando. Elogiamos o garoto, mas nem sabíamos o que ainda viria pela frente! Chegada a hora do auge, primeira surpresa: um live mais acelerado, "pegado" que na XXXperience. Compreensível, tendo em vista o ambiente indoor e o momento da festa (3:30 da manhã). Uma ótima apresentação, mas os fãs (como eu) sentiram falta da calmaria hipnótica do bom e velho Stimming.
Porfim, era a vez de H.O.S.H. Nunca fui grande conhecer do trabalho dele, mas o pouco que tinha ouvido estava longe de me agradar. Optamos por assisti-lo devido à superlotação do Garden (e também ao fato de que ele merece mais créditos que o Solomun), e não havíamos tomado uma decisão tão acertada durante o feriado todo! Como quem não quer nada, ele foi subindo o ritmo e quando nos demos conta, estavamos nos divertindo muito em um set com fortes influências de techno (de verdade), com viradas muito bem executadas e progressão idem.
Às 7:30 o line-up oficial se encerrou e foi a vez dos DJs se divertirem. Adriatique e Phono subiram ao palco, e juntamente com H.O.S.H., executaram um versus de 2:00 repleto de clássicos (de Daft Punk a Trentemoller), seguindo a mesma linha forte e envolvente que estava sendo tocada há 2 horas! Foi um encerramento surpreendente e digno para um dos poucos feriados prolongados do ano.
Problemas? Existiram, claro. De primeira podemos citar a falta de educação das pessoas que, não satisfeitas em ficarem circulando pela pista o tempo todo, o fazem como se estivessem em uma sala vazia, esbarrando e pisando em tudo e todos. Outro fato chato vivenciado e já citado é a superlotação: adianta investir em line-up e estrutura, se o público vai ficar apertado e incomodado como em um ônibus às 18:00?
Mas tudo bem, são problemas atemporais e que talvez nunca sejam resolvidos. O fato é que finalmente, depois de 3 anos, estou voltando pra casa orgulhoso da tip que deixei no foursquare. O templo é, mais uma vez, O TEMPLO. A boa música, os bons DJs, o bom público está de volta. E nós, só temos a agradecer!
Que venha Tale Of Us e o resto da programação da baixa-temporada :D